terça-feira, 13 de novembro de 2012
Ararinha-azul
A ararinha-azul (nome científico: Cyanopsitta spixii, do grego: cyano, "azul" + psitta, "papagaio"; e spixii, em homenagem a Johann Baptist von Spix) é uma espécie de ave da família Psittacidae endêmica do Brasil. É a única espécie descrita para o gênero Cyanopsitta. Outros vernáculos associados a esta espécie são arara-azul-de-spix, arara-do-nordeste e arara-celeste. Habitava matas de galeria dominadas por caraibeiras associadas a riachos sazonais no extremo norte do estado da Bahia, ao sul do rio São Francisco. Todos os registros históricos para a espécie estão localizados nos municípios de Juazeiro e Curaçá na Bahia, com apenas relatos da presença da ave nos estados de Pernambuco e Piauí.
A arara mede cerca de 57 centímetros de comprimento e possui uma plumagem azul, variando em tons pálidos e vividos ao longo do corpo. Pouco se conhece sobre sua ecologia e comportamento na natureza. Sua dieta consistia principalmente de sementes de pinhão-bravo e faveleira. E a nidificação era feita em caraibeiras, em ocos naturais ou feito por pica-paus. O período de reprodução estava associado a época das chuvas.
Em decorrência do corte indiscriminado de árvores da caatinga e do tráfico ilegal, a população se reduziu até restar um único indivíduo que desapareceu em 2000/2001. Está seriamente ameaçada de extinção, tendo somente 73 exemplares em cativeiro, e declarada extinta na natureza pelo governo brasileiro. Entretanto, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) ainda a classifica como "em perigo crítico", possivelmente "extinta na natureza".
Índice [esconder]
1 Nomenclatura e taxonomia
2 Distribuição e habitat
3 Características
4 Ecologia e comportamento
5 Conservação
5.1 Cativeiro
6 Aspectos culturais
7 Notas
8 Referências
9 Ligações externas
Nomenclatura e taxonomia
Relações filogenéticas do gênero Cyanopsitta
Cyanopsitta
Orthopsittaca
Primolius
Ara
Cladograma inferido das sequências de DNA mitocondrial e nuclear proveniente de Tavares et al., 2006.
A primeira descrição da espécie foi feita por Johann Baptist von Spix em 1824 com o nome de Arara hyacinthinus.[2] No entanto, o epíteto específico estava pré-ocupado pelo Psittacus hyacinthinus descrito por John Latham em 1790.[3] Johann Georg Wagler, que foi assistente de von Spix na publicação do livro de 1824, substituiu o nome científico da espécie para Sittace spixii em 1832.[4] Em 1854, Charles Lucien Bonaparte descreveu um novo gênero para a espécie, o Cyanopsitta, recombinando o nome científico para Cyanopsitta spixii.[5]
Ocasionalmente, a espécie foi inserida no gênero Ara.[6][7] Helmut Sick (1997) não considerava a Cyanopsitta spixii como uma arara, devido a um maior relacionamento com as jandaias.[8] Análises moleculares demonstraram que o gênero Cyanopsitta está relacionado com os gêneros Primolius, Ara e Orthopsittaca e constitui um gênero distinto dos demais.[9]
Distribuição e habitat
A espécie ocorria principalmente na margem sul do rio São Francisco em matas de galerias dominadas por caraibeiras (Tabebuia aurea). A área de registro histórico está situada na região do submédio São Francisco no noroeste da Bahia entre as cidades de Juazeiro e Abaré.[10] Os únicos registros confirmados estão nas proximidades da cidade de Juazeiro, onde o holótipo foi coletado em abril de 1819 por von Spix durante a Expedição Austríaca ao Brasil, e na área dos riachos Barra Grande-Melância no município de Curaçá, onde alguns indivíduos foram redescobertos em 1985-1986 e posteriormente em 1990.[10][11] Um registro não confirmado indicou também a presença da ave no riacho da Vargem situado nos municípios de Abaré e Chorrochó.[11][12] O único registro, baseado em informação local, ao norte do rio São Francisco no estado de Pernambuco, é proveniente do riacho da Brígida localizado nos municípios de Orocó e Parnamirim.[10][12] Dois registros são conhecidos para o estado do Piauí, um de 1903, quando Othmar Reiser relatou dois avistamentos próximos ao lago Parnaguá,[13] e outro em 1975 na região de Serra Branca.[14]
Alguns autores consideravam a distribuição da ararinha-azul associada com os buritizais, indicando uma área de distribuição no sul do Piauí, extremo sul do Maranhão, noroeste de Goiás (hoje Tocantins), noroeste da Bahia e extremo sudoeste de Pernambuco.[15][16][17] Foi somente na década de 80 com a redescoberta da arara que observou-se que o habitat preferencial da ave estava associado com a caraibeira, que está restrita a margens e várzeas de riachos estacionais existentes na Caatinga, especialmente no submédio São Francisco.[11][12]
Características
Gravura de 1878.
A ararinha-azul mede de 55-60 centímetros de comprimento, possui uma envergadura de 1,20 metros e pode pesar de 286 a 410 gramas.[18] A plumagem possui vários tons de azul. O ventre tem um tom pálido a esverdeado enquanto o dorso, asas e cauda tons mais vividos. As extremidades das asas e cauda são pretas. A fronte, bochechas e região do ouvido são azul-acinzentados.[19] O loro e o anel perioftálmico são nus e a pele é de coloração cinza-escura nos adultos.[19] A cauda é proporcionalmente mais longa e as asas mais longas e estreitas que as demais araras.[8] O bico é inteiramente preto e os pés são marrom-escuros a pretos. A íris é amarela.[19]
O juvenil se diferencia do adulto por apresentar a cauda mais curta, a íris cinza, a faixa nua na face mais clara e uma faixa branca na frente do cúlmen do bico.[20][19] Essas diferenças desaparecem quando a ave atinge a maturidade sexual. Apresenta dimorfismo sexual, sendo as fêmeas menores que os machos, quanto a plumagem não há diferenças.[19][20]
Ecologia e comportamento
Semente da faveleira.
Informações sobre a ecologia e comportamento da ararinha são limitados, já que as pesquisas só começaram na década de 80, quando somente três indivíduos restavam na natureza.[21] A alimentação era composta principalmente de sementes de pinhão-bravo (Jatropha mollissima) e faveleira (Cnidoscolus quercifolius) que representavam cerca de 81% da dieta.[12] Outros fontes alimentares incluíam as vagens da caraibeira (Tabebuia aurea) e da baraúna (Schinopsis brasiliensis), e os frutos do joazeiro (Zizyphus joazeiro). A estação reprodutiva estava relacionada com a época das chuvas, ocorrendo de outubro a março. A espécie era dependente de árvores da espécie Tabebuia aurea onde nidificavam.[12] O ninho era feito em ocos naturais ou feitos por pica-paus (Campephilus melanoleucos) e normalmente de dois a três ovos eram postos. Relatos feitos na observação do último exemplar na natureza, revelou que a espécie pernoitava em facheiros (Pilosocereus spp.), possivelmente para proteção.[12]
Conservação
A ararinha-azul é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como "em perigo crítico" (possivelmente extinta na natureza)[nota 1], na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) aparece no "Appendix I"[22] e pelo Ministério do Meio Ambiente como extinta na natureza desde 2002.[23]
O declínio populacional da espécie está associado com a perda do habitat, competição com abelhas africanizadas por ninhos, caça e tráfico de filhotes.[24] Durante as últimas décadas, o tráfico ilegal foi possivelmente a principal causa da extinção da espécie na natureza.[25]
O maior responsável pelo desaparecimento desta ave é o homem devido ao intenso tráfico. Os compradores são atraídos pela sua bela cor azul e principalmente pela ganância de possuir uma espécie tão rara. Um exemplar da ararinha-azul chega a custar no mercado negro milhares de dólares.
Cativeiro
A ararinha-azul é uma das aves mais raras e protegidas do mundo.[18] Em 2010, o número oficial de espécimes em cativeiro chegou a 73, distribuídos em cinco instituições. Mas acredita-se que possa haver até 120 animais espalhados pelo mundo.[1] Destes, apenas seis podem ser encontrados no Brasil, sendo que dois estão no zoológico de São Paulo. Apesar de serem um casal, as ararinhas-azuis do Zoológico de São Paulo nunca tiveram filhotes.
Instituições Localidade Machos Fêmeas Desconhecido Total
Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP) Al Shahaniyah 22 34 0 56
Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) Berlim 0 2 0 2
Fundação Parque Loro (LPF) Tenerife 3 5 0 8
Fundação Lymington (LF) São Paulo 2 1 0 3
Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) São Paulo 2 1 0 3
Total 29 44 0 73
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